domingo, 31 de março de 2013

PENSANDO NO DHARMA, NA PASSAGEM DO TEMPO E NO AMOR - UMA PEÇA E DOIS FILMES

Assisti na última sexta-feira ao espetáculo "Translunar Paradise", no CCBB São Paulo, produção londrina com a Cia. Theatre Ad Infinitum, em cartaz até 07/04. No espetáculo, sem o uso de uma única palavra, o casal de atores trabalha a passagem do tempo, a velhice e a morte de um deles.
Confesso que o trabalho de teatro físico, o uso das máscaras e a terceira presença em cena - com voz e um acordeon -, não me conquistaram logo nas primeiras cenas. Mas, com o correr do espetáculo, me emocionei bastante.

Imagem do espetáculo "Translunar Paradise"
Saí pensando em dois filmes que vi recentemente e na sincronicidade dos dois, junto com a peça, nesse início de ano em minha vida. Um deles, "Amor", de Michael Haneke, também mostra o relacionamento de um casal na velhice e suas dificuldades. E também, como na peça, é sugerida uma relação com verdade e cumplicidade.

Imagem do filme "Amor"
O terceiro filme é diferente desses dois trabalhos, mas não consigo deixar de associar, de alguma forma. Comecei a vê-lo no avião, viajando para a Índia, dormi e terminei de vê-lo há duas semanas atrás. "O Exótico Hotel Marigold" apresenta algumas pessoas de idade em um hotel, na Índia. E há um pouco de tudo, pessoas ainda meio mal resolvidas, mas também reflexões interessantes. Entre elas, um senhor doente decide terminar sua vida na Índia para rever um amor da juventude, um rapaz que nunca mais viu e que, por conta da história dos dois, foi afastado, junto com sua família, do trabalho. 
Deixando de lado a aposta do filme na história romântica, há questões interessantes em discussão, que envolvem a diferença de pensamento e modo de ser do oriental e do ocidental. O indiano, a despeito do sentimento de  culpa do inglês, diz a ele que teve uma vida boa, em seu casamento indiano arranjado. A esposa dele conta, à inglesa intrigada, que quando o casamento foi arranjado, o marido disse a ela que tinha amado um homem e que sempre o amaria. Esta inglesa - que praticamente começou a trabalhar e a viver após ficar viúva -, percebe que, em seu casamento, não havia verdade ou compartilhamento nenhum.

Imagem do filme "O Exótico Hotel Marigold"
Ao pensar na peça e nos filmes, lembrei-me de como é triste ver - e, infelizmente, vemos isso muito -, pessoas que, no fim da vida, sentem-se claramente traídas por si mesmas, por terem vivido de forma alheia às suas verdades. E tudo isso esteve também, como não poderia deixar de ser, em seus relacionamentos.

Lembrei-me, também, da Bhagavad Gita, quando Krishna diz que é melhor fazer o seu trabalho, por mais insignificante que possa parecer, do que fazer o trabalho de outro, por mais grandioso que possa parecer.

E fui dormir pensando no Dharma...

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