Jagannatha - O Senhor do Universo (imagem salva da página https://www.facebook.com/jagannatha.svami |
A conversa que esteve nas redes sociais nessa semana não é nova. Essa ideia de que não é necessário um dia para a consciência negra é já bastante antiga, e similar a muitas reações a qualquer avanço das chamadas "minorias", grupos fora do que tem sido a ordem esmagadora de um certo homem, branco, ocidental.
Espanta um pouco que algumas ideias se vistam de uma consciência superior, desenvolvida, além de qualquer diferença ou segmentação, que clama por algo maior, por uma consciência humana. Espanta, mas tampouco isso é novo. Alguns discursos são sempre astutos. Por que não se valeriam também dessa ideia sublime e genial, propalada por grandes mestres, de que é preciso ver além das diferenças, ou ver a unidade na diversidade?
Há alguns anos, quando vi uma pessoa usando esse argumento 'sábio' para desqualificar uma tentativa do sistema de cotas, fiz uma paráfrase do linguista Ferdinand de Saussure, porque este diz que na língua só existem diferenças. E disse que, no mundo, só existem diferenças. Porque no mundo manifesto há diferenças, dualidades, e cumpre lidar com elas.
A ideia de ver a unidade na diversidade não justifica manter injustiças. Ter a fantasia de que estamos no melhor equilíbrio possível entre as diferenças, raças, gêneros, e que não há mais nada que poderia ser feito, não transforma ninguém em 'gênio da raça' e, felizmente, 'cola' cada vez menos.
(E, já que falei em Saussure e em línguística, poderia arriscar que ver a unidade na diversidade pode ser análogo a unir língua e fala, significante e significado. Coisa para poetas, e não para esse discurso reacionário e prosaico de sempre.)
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