domingo, 26 de abril de 2015

INDRA E O DESFILE DAS FORMIGAS (AINDA SOBRE SER INSIGNIFICANTE E INFINITO)


Revendo a postagem passada - em que trouxe a frase "A gente é insignificante e infinito ao mesmo tempo", que estava em um muro no Parque Augusta -, pensei em um mito muito interessante da cultura hindu chamado "Indra e o Desfile das Formigas", que compartilho aqui de forma resumida.

Imagem da página rosenfeld.org
Neste mito, Indra, o rei dos deuses, após ter feito as águas voltarem a correr livremente pela Terra ao matar um imenso dragão que as mantinha cativas, reconstruiu as mansões da cidade dos deuses e, ciente de sua força e poder, chamou o deus das artes e ofícios, Vishvakarman, para erguer um palácio que estivesse à altura de seu esplendor.  

E Vishvakarman construiu um palácio magnífico, repleto de tudo o que pudesse ser maravilhoso. No entanto, com a realização do palácio, aumentavam as exigências de Indra, que nunca ficava satisfeito e queria sempre mais.

Desesperado por não ver fim para seu trabalho, o mestre divino foi pedir socorro a Brahma, que disse a ele que fosse em paz e que seria atendido. Brahma passou, então, a solicitação a Vishnu.
Na manhã seguinte, uma criança com brilho divino apresentou-se à porta do palácio e foi recebida por Indra. Questionada por ele, disse que tinha ouvido falar do magnífico palácio e que viera fazer algumas perguntas, como quando estaria pronto e o que mais Vishvakarman teria que realizar. Disse, então, que nenhum Indra antes dele havia conseguido terminar um palácio como seria aquele.
       


Maha Vishnu e os universos



Indra, a princípio divertido, perguntou ao menino se eram assim tantos os Indras de quem tinha ouvido falar. E este disse que sim, que viu muitos deles. Disse que conheceu o pai do deus e todas as criaturas, que conheceu o Ser Supremo e a dissolução do Universo em que, ao final de cada ciclo, todos perecem. Incontáveis eras, incontáveis universos, cada um com seu Brahma, seu Vishnu e seu Shiva. Incontáveis Indras, chegando a rei dos deuses, e perdendo seus reinados...

Enquanto o menino falava, um desfile de formigas havia surgido no chão do palácio.




Ao olhá-las, o menino riu e Indra, já nervoso, perguntou do que ele ria. Ele disse que ria pelas formigas, mas que não podia revelar o porquê. Com a insistência de Indra, o menino disse que cada uma das formigas daquele desfile já havia sido um Indra: já havia se elevado a rei dos deuses, como ele e, com sucessivos renascimentos, havia voltado a ser formiga.

Então um outro visitante, um eremita, entrou no palácio. Era Shiva, e tinha um círculo sem pelos em seu peito. Permaneceu imóvel, até ser questionado por Indra sobre quem era e sobre o motivo de ter, no peito, o círculo sem pelos. Shiva disse, então, que não desejava nada, que dedicava-se apenas a meditar, e que o círculo em seu peito ensinava a sabedoria pois, a cada vez que um Indra caía, um fio de seu peito caía também.

Subitamente, o eremita e a criança desapareceram. Indra permaneceu atônito, sem saber se tudo havia sido um sonho. Mas... algo mudara nele. Não sentia mais vontade de ampliar o palácio.

No Parque Augusta. (Encontre os Indras ;) ) (Ana Cabezas)
Ascensão e palácios. No Parque Augusta. (Ana Cabezas)

Dispensou Vishvakarman com agradecimentos e recompensas e decidiu refugiar-se na floresta, para buscar apenas a redenção. 





Sua rainha, no entanto, ficou muito triste, e pediu ao conselheiro real, Brihaspati, que removesse aquela ideia da mente de Indra.





Brihaspati falou então a Indra sobre as virtudes da vida espiritual, mas também sobre as virtudes da vida regular que temos a viver, e mostrou a ele o valor de cada coisa.


Indra voltou então a cumprir seu papel dentro do universo transitório do qual fazia parte (junto com todos os outros Indras e o desfile das formigas).

(Os "gifs" de formiga vieram da página aaanimations.com)

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