domingo, 1 de janeiro de 2017

FELIZ ANO NOVO! (E VAMOS UM POUCO MAIS AO PONTO...)



(Desconheço a autoria)
"O que é a vida senão sonho?" 
  (Lewis Carrol?)

Segue uma história que já ouvi de formas diferentes, mas que acho interessante para pensar. 
Pensar no que estamos fazendo e vivendo, pensamentos que sempre surgem nestes momentos de passagem, como fim e início de ano.
Vicky Brago-Mitchell - Árvore Fractal



É dito por alguns que Maya é como a teia de aranha: tanto vela quanto revela a aranha.
Alguns traduzem Maya simplesmente por ilusão. Mas... é a ilusão em que se vive...





E Narada (lê-se Nárada), que era um discípulo de Krishna, teria manifestado interesse em conhecer Maya. 
Krishna leva-o então a um passeio e, após andarem muito, Narada começa a desconfiar que Krishna não iria satisfazer sua curiosidade.

E Krishna diz a ele:

- Narada, tenho sede. Traga-me um copo d'água.

Friedensreich Hundertwasser - Labyrinth



Narada vai, em busca do copo d'água, e entra no povoado mais próximo.

Lá, chama na primeira casa, onde é atendido por uma bela moça.

Narada apaixona-se à primeira vista. O amor é recíproco e decidem casar-se.

Casam-se em uma bela festa e ficam morando no povoado. E têm dois belos filhos.

A vida vai seguindo tranquila, até o dia em que acontece um tsunami e Narada se vê tentando salvar a família no meio da água. Tem o filho mais novo no colo, mas a água leva o mais velho e a esposa. Narada tenta, desesperado, segurá-los e acaba largando e perdendo também o filho que estava no colo. E se vê completamente perdido.





Krishna, então, estala os dedos e pergunta:

- Narada, cadê minha água?

Sri Yantra (silkpaintings.wordpress.com)

Quando ouvimos falar em Maya, pensamos logo em ilusão. 
E aí......... é tão fácil vencer a ilusão, não é mesmo? 

Mas, e se for uma força assim como a da gravidade?

Desejo a todos um 2017 com ampliação da Consciência. (Que é o ponto.)

domingo, 25 de dezembro de 2016

UMA BELA HISTÓRIA DO SOL (E O NATAL)


Compartilho aqui uma história. Talvez a mais bela que já ouvi, que tem a ver com o Natal.
Ouvi essa história numa aula da Associação Cultural Nova Acrópole, que tinha a ver com os símbolos da data.

Solstícios e equinócios - imagem da NASA, na pág. earthsky.org 


Sabemos que o Natal tem a ver com o solstício de inverno no hemisfério Norte. Independente da História ou de personagens (e uma coisa não invalida a outra).

E que o solstício de inverno proporciona a noite mais longa do ano, em que o Sol faz a sua mais longa jornada pelas trevas.

A jornada do Sol pode sempre ser comparada à jornada do herói que, para sair vitorioso, passa por provas e dificuldades.

Esta época de inverno está associada ao declínio das forças físicas, com os dias mais curtos, seja na agricultura, na hibernação dos animais, e em toda a natureza. E, por compensação, as forças internas, espirituais, aumentariam, preparando o berço para o nascimento do que é divino.





Imagem de vídeo da pág. svs.gsfc.nasa.gov



A história conta que o mitólogo Mircea Eliade encontrava-se em uma tribo, durante o solstício de inverno.

E a tribo, como fazia todos os anos, realizou os seus rituais para a noite desta data, em que batiam tambores, panelas, e faziam todo o barulho que podiam para chamar o Sol de volta.

O mitólogo, então, foi perguntar ao xamã se eles realmente acreditavam que, se não fizessem aquele barulho todo, o Sol não voltaria a nascer.

E o xamã disse a ele que os homens brancos se achavam muito espertos, mas não percebiam o mais importante.

Disse que este Sol, visível a nós, que aparece no céu, eles sabiam que já é vitorioso, e que volta todos os dias.

Mas que o Sol que está dentro de cada um, este ainda está travando a batalha, e precisa de força e ajuda.


Compartilhei esta história este ano com meus alunos, porque acho que tem tudo a ver com a nossa prática.
OM e Gayatri Mantra (Dolls of India Art Store)
Na cultura em que o Yoga teve origem, o Sol também é representação da consciência, de algo que deve estar presente, esteja ou não visível no céu.

E o Gayatri - o mantra mais venerado do mundo (veja aqui o mantra e uma história sobre ele: https://goo.gl/E9V0ZZ) -, tem a ver exatamente com isso.
Com essa essência.

Feliz Dia do Sol Invictus, ou do Sol nunca vencido, porque a consciência é verdade, então eterna e imutável.

E possa o fulgor da essência do Sol inspirar nossas vidas.

domingo, 22 de maio de 2016

MONSTROS


Monstros são os guardiões do tesouro.

Recentemente abri o Dicionário de Símbolos para ler um símbolo qualquer.
E, por alguma sincronicidade, abri no símbolo "monstro". E achei muito interessante porque, de acordo com o conhecimento dos símbolos, os tesouros estão sempre guardados por um.
Imagem de obviousmag.org
Vejo sempre as pessoas buscando o bem-estar e querendo estar completamente longe dos problemas, sem nem tomar qualquer contato com eles. 
E - ainda hoje! - é frequente também achar que quem pratica Yoga nem chega a se irritar com nada, não está nem aí com as coisas e está sempre com cara de paisagem.
Combate de Rama e Ravana no épico Ramayana. (Imagem da pág. kindredsubjects.blogspot.com.br)
Pensando como adultos, será que existe alguma possibilidade de crescer sem enfrentar os problemas que estão dentro de nós, em vez de querer vê-los sempre nos outros? 
Ou será que é possível eu deixar de me irritar com as coisas por decreto, sem buscar o conhecimento do que me leva à irritação?
Ravana, personagem do épico Ramayana que, com suas cabeças, representa também a nossa mente, que não dá sossego e nos impede de ir além. (Imagem da pág. http://ouocblog.blogspot.com.br/)
É por isso que, na prática do Yoga, tomamos contato com nossos pontos fracos. Para fortalecê-los.
Independente do que pareça aos outros. 
E também para começar a dizer olá aos nossos monstros, porque sem conhecer os truques e artimanhas deles, para derrotá-los, não vamos arrecadar o tesouro. 

Rama e Lakshmana enfrentam Ravana. (Dolls of India Art Store - Pinterest)
Seguem trechos do dicionário:

Imagem da pág. http://ba.olx.com.br/

"O monstro simboliza o guardião de um tesouro, como o tesouro da imortalidade, por exemplo, isto é, o conjunto das dificuldades a serem vencidas, os obstáculos a serem superados, para se ter acesso, afinal, a esse tesouro, material, biológico ou espiritual. O monstro está presente para provocar ao esforço, à dominação do medo, ao heroísmo."

"O monstro surge também da simbologia dos ritos de passagem: ele devora o homem velho para que nasça o homem novo."

"O monstro é ainda o símbolo da ressurreição: ele devora o homem com o fim de provocar um novo nascimento. Todo ser atravessa o seu próprio caos antes de poder estruturar-se, a passagem pelas trevas precede a entrada na luz."

"[...] os monstros simbolizam uma função psíquica, a imaginação exaltada e errônea, fonte de desordem e infelicidade: é uma deformação doentia, um funcionamento enfermo da força vital."

(em "Dicionário de Símbolos". Jean Chevalier e Alain Gheerbrant. Ed. José Olympio.)

domingo, 8 de maio de 2016

MÃE

Mãe. A energia de cuidar, de nutrir, a nadi (canal de energia) do lado esquerdo, a nossa Terra. A Lua, a nossa casa.
Todas as mulheres. O respeito por tudo isso, que está dentro de cada um de nós.
E respeito é respeito. Não exclui o reconhecimento de que o outro é, enfim, feito do mesmo que eu.
Não tenho mãe há 20 anos. E, ainda adolescente, lembro de ter acalentado o desejo de que viesse o dia em que fôssemos contemporâneas, amigas, dois seres adultos. 
Quase não tive isso. Arranhei a ideia. Mas valeu.
Lembro de que adorava chamar minha mãe pelo nome: Laura. Um nome lindo.

Então, entendo a Mafalda. Mãe. Sem pieguice, sem explorações, menos neuras. 
E mais amor.

segunda-feira, 7 de março de 2016

UMA NOTA A PROPÓSITO DO MAHA SHIVARATRI


Bangalore 2013 (Ana Cabezas)

Joseph Campbell disse que a razão pela qual devemos estudar os mitos é aprender a viver. Os símbolos existem para isso e - para além de qualquer confusão aparente por conta da diversidade de histórias, nomes e formas -, os recados são claros, fortes, e são o que nos ensina sobre a vida. 

Esta nota foca no pensamento de que Shiva vive dentro do meu coração. 
E do seu também!
Não está fora, não vem de fora para dentro. Já está aí, a ser descoberto e vivido.

Assim Shiva, o primeiro yogi, com sua cabeleira e seu corpo coberto de cinzas - muitas vezes um outsider, como mostrado em tantas histórias -, não é uma persona, uma máscara social. 
Imagem do tumblr (bhrm555)
Shiva não é uma pose. Ele simplesmente faz o que tem de ser feito.
Como também não são poses os Ásanas de yoga, e não devem ser fazedores de pose os praticantes.

Na 2ª feira passada falava disso com alguns alunos. Sobre como sementes lançadas por outras pessoas, propagandas, imprensa, etc, podem ser cultivadas em nossa mente. E sobre como, sem cuidados, nossa mente pode se tornar um ajuntamento de ideias que defendemos e sequer percebemos que não são nossas.

Também nosso corpo assume poses e formas que nos são sugeridas. 
Não seja o Yoga mais um monte de poses a serem assumidas de fora para dentro.

Os Ásanas têm que me ajudar a realizar a potencialidade do que estou, do que vim ser neste corpo, curar os problemas que a vida me trouxe e me capacitar para lidar com os que não podem ser curados.
E realizar a conexão com quem sou, me conectar com minha essência última, com aquele que vive dentro do meu coração.

Shiva tem relação com a destruição. Destrói as falsas identificações, para a transformação, a renovação. 

Shiva tira o veneno do ego, das poses, do falso, para que a transformação aconteça, como fez quando foi solicitado a dar um jeito no veneno (hala hala) que veio quando os deuses e demônios batiam o oceano de leite para extrair o néctar da imortalidade (amrita): Shiva engoliu o veneno e segurou em sua garganta. (Por isso é conhecido também como Nilakantha, aquele que tem a garganta azul.)

Imagem do tumblr (kailasanath)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

POESIA. (CLARO...)


Imagem de Klaus Rinke

Um símbolo está vivo no corpo, na prática.

A linha da coluna é o eixo do corpo (Meru Danda), como o Monte Meru é o eixo do mundo.

Uma árvore (figueira) que gera um bom fogo com sua madeira (Vrkshásana).

A respiração...

Aí vi o verso do Drummond que uma amiga compartilhou e lembrei do que ouvi de um professor: os kavis (poetas) eram os grandes sábios da Índia antiga.

Só isso:

"Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida."
(Carlos Drummond de Andrade)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

2016 (E O NÚMERO 9)

Meu novo OM, na minha velha nova casa. (Foto: Eloi Chiquetto)

É dito que este ano que começa hoje está sob o signo do número 9, pois a soma de todos os números que o compõem (2 + 0 + 1 + 6) é 9. 
É interessante que 9 é um número ligado à introspecção. 
108, um número muito importante no Yoga (número de contas de um japamala, cordão de contas para contar mantras) também tem a soma transversal igual a 9 (1+ 0 + 8).

Tomara que neste novo ano nossa prática do Yoga, que nos faz olhar para dentro, continue a nos trazer mais força. Aquela força que traz uma maior compreensão, por afastar os medos e ansiedades.
A força que traz tranquilidade, por você saber que suas energias serão para o seu crescimento, não para estar à mercê dos jogos de outros.

Que em 2016, como disse o Professor Hermógenes (que esteve entre nós até março do ano passado), Deus nos livre de ser normais.



"O que é normal?
 É a sua vida - obcecada por desejos e medos,
 cheia de conflitos e de luta, sem sentido e sem alegria - normal?"

Sri Nisargadatta Maharaj
(Da página Sri Nisargadatta Maharaj em português - https://www.facebook.com/NisargadattaMaharajportugues)


2016 começa com ladoos para o Sr. Ganesha! (Foto: Eloi Chiquetto)





(E, pra quem ficar curioso, segue uma receita de ladoo - doce que aparece na imagem ao lado, sempre associado a Ganesha -, da página www.menuvegano.com.br:


Numa frigideira, derreta a margarina vegana e junte a farinha de grão-de-bico em fogo médio.
Mexa constantemente até que toste e fique marrom claro. (A dica para acertar no preparo desse doce é escurecer a farinha no ponto certo).
Junte as nozes, as amêndoas, o cardamomo e mexa por mais 2 minutos.
Retire do fogo, acrescente o açúcar, misture bem e deixe amornar.
Salpique a água sobre a massa, com ela ainda morna e misture bem.
Forme bolinhas, pressionando a massa morna nas mãos.
Sirva frio.


O meu foi diferente: com azeite no lugar da margarina, gengibre no lugar do cardamomo, e açafrão em rama no lugar do coco ralado. 
E ficou muito bom...) 


JAYA GANESHA!
OM GAM GANAPATAYE NAMAHA!


domingo, 8 de novembro de 2015

AINDA SOBRE CURA

Imagem da página pensador.uol.com.br


Compartilhei essa ideia, tão importante, há um ano. E, como uma amiga compartilhou como "recordação" hoje, quis escrever algo sobre. 
Também porque entendo que esta é a pedra de toque da prática do Yoga: podermos nos tornar quem realmente somos. 
Mas, como assim?





Brinco às vezes, com meus alunos, que o Yoga não tem a ver com "condicionamento físico", mas com descondicionamento. E digo isso porque importa muito, desde a prática mais básica de Ásana, a união da mente ao corpo para o desenvolvimento da consciência. O autoestudo, a descoberta de quem estamos, e de quem somos.
O que tenho que fazer em minha prática é... eu mesma! Vou lidar com meus problemas, minhas sombras, desde o meu corpo, que é o mais grosseiro, até a minha mente. E desde as camadas mais densas da mente até a consciência, mais sutil. (Lembrando o Iyengar, pela milésima vez: "O corpo alinha a mente, a mente alinha a consciência.") 
E, em "A Árvore do Yoga": "(...) meu corpo é meu arco, minha inteligência é minha flecha, e meu alvo é minha alma."

Iyengar em Dhanurásana (Ásana do Arco)

Minha alma...

 
Em "Uma Visão Ayurvédica da Mente - A Cura da Consciência" (Ed. Pensamento, 2014), o Dr. David Frawley define a alma como "nossa individualidade divina": 

"Trata-se de nossa parcela individual do Eu Divino por meio de que temos a ideia de 'eu sou'. A alma individual é a ideia superior de si mesmo por trás de nossa existência individual, nossa verdadeira individualidade."
"Chegar ao nível da alma é a chave para todas as formas de cura. (...) Não é tanto que precisemos curar nossa alma; é sobretudo o termos de nos tornar conscientes de nossa alma. (...) A percepção da alma libera todos os poderes de cura inerentes a nós."

Acho importante que não há no Yoga atalhos, fórmulas mágicas. Não é proposta uma alma maravilhosa e isolada. Até porque... estamos num corpo, não estamos? E numa mente também. Então... temos que lidar com isso. 
Se quisermos achar que o corpo e a mente mais externa (com os órgãos sensores e motores), não têm nada a ver conosco, eles vão nos passar rasteiras. Temos que trabalhar para ter uma consciência cada vez maior deles e usá-los da melhor forma.

Sri Shibendu Lahiri, na pág Kriya Yoga Lahiri Spain



Termino com, uma mensagem de Sri Shibendu Lahiri na página Kriya Yoga Lahiri Spain, que o meu professor Osnir Cugenotta compartilhou com o comentário "Svadhyaya!" (que pode ser traduzido como autoestudo):

"No tengo Mensaje. Mi Mensaje eres tú. Obsérvate. Sé una luz para ti mismo."

sábado, 24 de outubro de 2015

YOGA E A CURA DA CONSCIÊNCIA. (E UMA CERTA "CESTA BÁSICA"... )


Essa postagem é também porque é muito comum as pessoas não entenderem porque o Yoga, que tem como ponto alto a meditação e a transcendência, faz um uso muitas vezes tão intenso do trabalho com o corpo.

Quando lembramos que Patañjali define o Yoga como uma disciplina mental, que busca o aquietamento dos turbilhões da mente, mais uma vez o uso do trabalho com o corpo pode causar-nos questionamentos.

Lendo "Uma Visão Ayurvédica da Mente - A Cura da Consciência", do Dr. David Frawley, pensei no que aprendi de meu professor Osnir Cugenotta: o corpo é tamásico (de Tamas - qualidade da inércia e do embotamento) e a mente é rajásica (de Rajas - qualidade da atividade e da agitação). Então, nos Ásanas (posturas psico-físicas do Yoga) ativamos o corpo para acalmar a mente. Dá pra entender?

Dá. Olha só: quando você fez uma longa caminhada, normalmente você relaxa muito melhor do que quando ficou só "morgando" e pensando muita bobagem o dia inteiro. Quando ativamos o corpo, ajudamos a mente a se estabilizar. Principalmente quando colocamos a mente junto a ele (e essa é uma das grandes funções de tantas ações internas nos Ásanas, ou posições psico-físicas do Yoga: patelas para o alto, coxas para dentro, esterno para cima... já ouviu falar?) 
A mente - que voa tão fácil -, vem para o concreto, para o corpo - que é o que está mais "aterrado". E o corpo, que é o mais denso, por sua vez, entra em um processo de sutilização, pela purificação pelo "fogo", que é o calor gerado pelas mencionadas ações e pela energização que acontece.

Ou seja: cesta básica. Nada de que a maioria de nós não precise.

Porque a qualidade da inteligência e da virtude - Sattva - é 'simplesmente' o equilíbrio das outras duas (Rajas e Tamas). (Fácil......... só que não.)

Imagem da página rawayurveda.com
Sattva, em uma definição do livro mencionado, "possui um movimento para dentro e para cima", coisa que vamos conhecendo na prática do Yoga.

E, por fim, mesmo Sattva deve ser transcendido:

" (...) o apego a Sattva, bem como o apego à virtude, pode limitar a mente. Por essa razão, devemos nos empenhar em desenvolver o Sattva puro, que é a sua forma destacada, ou Sattva não apegado às suas próprias qualidades. O Sattva puro não condena Rajas nem Tamas, mas compreende o lugar deles na harmonia cósmica, que é como os fatores externos da vida e do corpo, cujo lugar apropriado é longe de nossa verdadeira natureza." (pag. 39)
("Uma Visão Ayurvédica da Mente - A Cura da Consciência", Dr. David Frawley. Ed. Pensamento. 2014.)

(Mais fácil ainda, não é? 
Só que não mesmo..................)

(Nota: Ayurveda é o "conhecimento da vida", a medicina da cultura védica, cultura que também deu origem ao Yoga.)

domingo, 4 de outubro de 2015

PRIMAVERA! (SAUDAÇÃO AO SOL - SURYA NAMASKAR)

Imagem da página yoga-detente.fr

Tenho por hábito, já há alguns anos, fazer uma aula só com o Surya Namaskar, no início da primavera.
Não o Surya Namaskar A ou B, mas o Clássico, com seus 12 mantras.
Nesta aula uso uma gravação dos mantras que se repete 12 vezes, fechando um ciclo.


Os mantras trazem 12 nomes para o Sol. E gosto de lembrar aos alunos algo que aprendi: o Sol representa a consciência; e é a essência do Sol - em última instância, a energia que sustenta o Sol, bem como todo o Universo -, que é saudada.



Nascer do Sol no Rio Ganges, em Varanasi (Ana Cabezas, 2013)





E vale lembrar que o Sol é associado, em muitos mitos, com o impulso para a realização da própria natureza, ideia que tem a ver com o Dharma, na cultura védica. Cada um de nós deve realizar o Dharma pessoal (Sva Dharma) em consonância com o Dharma eterno (Sanatana Dharma).



Meu professor Osnir Cugenotta comentou uma vez que via isso no símbolo astrológico usado para o Sol: o ponto (singularidade), contido na esfera, na totalidade.

Símbolo astrológico para o Sol
Abaixo um trecho muito interessante de "Os Luminares - A Psicologia do Sol e da Lua no Horóscopo" (Ed. Roca, 1994), dos autores Liz Greene e Howard Sasportas, no capítulo que trata do Sol:

"(...) Ele (o herói) deve encetar sua busca por ser pressionado a ela por sua necessidade interior, não porque isso fará com que as outras pessoas o amem. Contudo, no ato de se tornar um indivíduo ele está dando uma contribuição aos demais. Por aí você pode ver que o Sol é profundamente paradoxal. Quando nos tornamos nós mesmos, temos muito mais a oferecer do que se nos esforçássemos para tentar salvar o mundo como forma de compensar um vazio interior." (pags. 84 e 85)

Para finalizar: costumo fazer essa aula no início da primavera porque é a estação em que a vida surge - ou ressurge, porque a vida não se extingue - com força. E neste ano, sincronisticamente, antes da primeira aula da 2ª feira, uma amiga citou "primavera nos dentes", em uma postagem.
E não resisti a mencionar a música - que adoro! - dos Secos e Molhados, em que a primavera - e a vida, claro! - persiste nos dentes de alguém que foi até decepado. 
(Seguem o link para ouvir a música no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=oIbled8a3lY e a letra):


Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa contra a mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade e decepado
Entre os dentes segura a primavera