Volta ao palco nessa semana a peça Comunicação a uma Academia, baseada em um conto homônimo de Franz Kafka. Assisti à peça em dezembro, bastante instigada pela lembrança do que fora a leitura do conto pra mim, há um bom tempo.
Um macaco relata a acadêmicos - os espectadores, separados da cena por uma corda - seu processo de transformação em homem, após sua captura e enjaulamento. Relata como, imitando o comportamento dos humanos - embora sem admirá-los - consegue evoluir neste processo, até a fala. Há aí um golpe do macaco: usa tudo isso para não ter mais que viver enjaulado.
À parte a primeira analogia do assunto da peça com as restrições que os seres humanos são capazes de fazer à própria individualidade para serem aceitos em grupos, a peça me fez pensar em algumas questões. Saí do teatro pensando em como, em cada um de nós, convivem a animalidade e a humanidade; também em como é necessário fazer opções, quase o tempo todo, e fortalecer algumas características em detrimento de outras. (Alguns comportamentos imitados pelo personagem, de homens sugeridos como truculentos e beberrões, podem ser chamados animalescos.)
Pensei no trabalho feito no Yoga, de desenvolvimento do indivíduo, e na disciplina autoimposta. E em como isso é distinto, de certa forma, dos processos de socialização e repressão mais comuns que conhecemos, embora muitos discursos frequentemente confundam as duas coisas.
Bem, importa aqui lembrar que, no desenvolvimento da consciência, a identificação com as características impostas de fora para dentro passa a ter cada vez menos importância para o indivíduo, e ganha força a sua totalidade. Passam também a pesar menos as pressões de grupos, sejam eles de que 'espécie' forem...
Acima e à esquerda do texto: macacos em Rishikesh, Índia. (O macaquinho de cara vermelha é bastante ladrão, e às vezes fica perigoso... Os macacos de cara preta são mais dóceis.)
Abaixo do texto, a famosa gorila Koko, em foto de Ron Cohn. (Ver http://www.koko.org). Aqui Koko pratica sua experimentação de vários drinks, todos não alcoólicos.
Na última imagem, uma obra de Koko, chamada "Love". (A gorila, que tem um vocabulário de mais de mil sinais, pinta e tem gatos de estimação.)
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